Matías Vecino marcou o gol da volta do Uruguai às Olimpíadas (Reprodução/ Facebook/Selección Uruguaya de Fútbol) |
O Uruguai venceu o Paraguai no último domingo (24) e conquistou sua 15ª Copa América. Mesmo com a quarta colocação na última Copa do Mundo, em 2010 – a melhor equipe sul-americana no torneio –, a equipe não era tão favorita quanto Brasil e Argentina. O resultado confirma o processo de recuperação do futebol uruguaio, não só da seleção principal.
Este ano, a Celeste foi vice-campeã do Sul-Americano Sub-20,
garantindo o retorno aos Jogos Olímpicos depois de 84 anos (17 edições). A
última participação do Uruguai foi em 1928, em Amsterdã, quando conquistou a
medalha de ouro.
Além de voltar às Olimpíadas, este ano a seleção uruguaia foi
vice-campeã mundial Sub-17. Em 2010, surpreendeu ao chegar às semifinais da Copa
do Mundo depois de 40 anos, terminando à frente de Brasil e Argentina. Recentemente,
o Uruguai vem tendo dificuldades para conseguir se classificar para a Copa do Mundo.
Fora os últimos resultados da seleção, o Peñarol foi
vice-campeão da Taça Libertadores da América, tornando-se o primeiro clube
uruguaio a disputar o título depois de 20 anos. Nos últimos cinco, o melhor
resultado foi com o Nacional jogando as semifinais em 2009.
Incentivo aos estudos na base
O jornalista Lúcio de Castro revelou em seu blog, no site ESPN.com.br, que o técnico Óscar Tabárez idealizou e coordena desde sua
chegada, em 2006, um trabalho de formação humana nas seleções de base.
Quando assumiu o Uruguai, Tabárez promoveu uma peneira para
renovar as seleções de base e determinou que se os jovens atletas quisessem
continuar treinando, não poderiam abandonar os estudos. Um exemplo para o
Brasil.
É comum ouvirmos muitas pessoas em nosso país, não só
jogadores, contando sobre a infância pobre e que precisaram abandonar os
estudos para ajudar a família trabalhando. Para Lúcio de Castro, os jogadores
da base no Brasil são tratados como bichos e “confinados em alojamentos por
meses, anos, saindo (...) apenas para treinamentos. A mente sendo deixada
atrofiada...”.
Na época que Lúcio escreveu em seu blog, a seleção sub-20 do
Uruguai tinha acabado de ser goleada pelo Brasil, 6 a 0, ficando com o
vice-campeonato sul-americano. Ainda assim, esse time da Celeste pode ser um exemplo para o futebol
brasileiro: todos os jogadores uruguaios terminaram o primeiro grau; dos 22 atletas,
dez terminaram o segundo grau e alguns, segundo o jornalista, ingressaram na
universidade.
Luis Suárez comemora com a Copa América. Ele fazia parte da seleção sub-20 quando Tabárez implantou a nova filosofia. (Reprodução/Facebook/ Selección Uruguaya de Fútbol) |
Lúcio de Castro conta que, com mais educação e incentivo ao
surgimento de lideranças, surgem jogadores com maior senso crítico, muitos se
rebelaram contra seus empresários, como o atacante Luis Suárez e o meio-campista Nicolás
Lodeiro, atletas das categorias sub-20 e sub-17, respectivamente, quando
Óscar Tabárez chegou.
Em 2007, Lúcio de Castro entrevistou o psicólogo Gabriel
Gutierrez, que até hoje trabalha com todas as seleções de base do Uruguai e
também esteve com o time principal na Copa do Mundo de 2010. Gutierrez
esclarece que deve haver alternativa para os atletas caso não tenham carreiras
de sucesso.
- Menos de um por cento chega a ser profissional. Seria muito irresponsável estimular que o futebol é a salvação, quando a estatística marca que 99% não irão se salvar.
Entre os clubes que disputam o Brasileirão, o Santos mantém um espaço dentro da Vila Belmiro para reforço e acompanhamento escolar dos jogadores das equipes de base. Já o Metropolitano anunciou que o Centro Metropolitano de Formação de Atletas começa ano que vem. O projeto do clube blumenauense também inclui acompanhamento escolar.
União por objetivos comuns trazem resultados
Em entrevista ao site globoesporte.com, Jorge Fossati, último
técnico do Uruguai antes de Tabárez, citou o fim do “vício empresarial” como
uma das razões da recuperação.
- Tinha muita coisa errada na mentalidade dos diretores, dos
clubes. A seleção não era o time de todos. Cada um queria sua vantagem. E o
torcedor reagia de outra forma. Dizia que os jogadores não tinham fome de
glória, que só jogavam pelo dinheiro. Hoje, a coisa mudou completamente. Dá
para sentir que é uma nova etapa. Os torcedores estão com uma mentalidade
diferente. Os diretores perceberam que aquilo que é bom para o clube também é bom
para a seleção. Acho que foi uma mudança geral, que também envolveu a imprensa.
Todos pararam de ver a seleção como um lugar de negócios.
Continuidade
Durante a transmissão de Uruguai e Paraguai na ESPN Brasil,
o jornalista Paulo Vinícius Coelho comentou que uma das razões da recuperação
da seleção uruguaia foi a manutenção do treinador.
O atual técnico, Óscar Tabárez, treina a Celeste desde 2006.
Segundo matéria publicada pelo site globoesporte.com, o último a comandar o
Uruguai por tanto tempo foi Omar Borrás, de 1982 a 1987. Entre anos de 1990 e 2006,
a seleção uruguaia trocou nove vezes de treinador. Cinco deles foram demitidos
depois de cerca de um ano.
Com todas essas mudanças e a recuperação da seleção uruguaia, acredito que é possível um novo Maracanazo em 2014. Torcerei para que isso aconteça caso Ricardo Teixeira continuar presidindo a CBF e se persistirem os casos de corrupção, superfaturamento, politicagem, etc na organização da Copa do Mundo de 2014.
Com informações do globoesporte.com, ESPN.com.br, site oficial do Santos FC e Wikipedia
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