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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Meninos, eu fui


Sexta-feira, 24 de setembro de 2011. Como de costume, as pessoas esperam ansiosas pelo fim de expediente e a chegada do fim de semana. Eu finalizava um trabalho freelancer para depois entrar no Facebook. Olho as atualizações até que aparece uma mensagem: havia aberto uma vaga para a excursão para o dia do metal no Rock in Rio!

Duas semanas antes, frustrei-me por não poder embarcar na excursão para o show das bandas Judas Priest/Whitesnake em São Paulo e também para ver o Blind Guardian em Curitiba. Com duas das três parcelas pagas, perdi a viagem porque Blumenau sofria com mais uma enchente. O serviço de trânsito não recomendava a circulação de veículos por causa dos alagamentos. Depois, com queda no nível do rio, o transporte coletivo voltou a funcionar, mas com as rotas um pouco modificadas, o que interferiu no tempo do trajeto dos ônibus. Não vi táxis nas ruas.

Voltando ao dia 24, logo mandei um e-mail para garantir a vaga. Mesmo sabendo cantar pouco das músicas de Metallica, Sepultura ou Motörhead, foi a chance de eu ir a um Rock in Rio – não sei haverá outra oportunidade – e de dar outro destino àquele dinheiro do show que não pude ir. Antes de começar a venda de ingressos, havia um boato de que o AC/DC poderia tocar no festival. Esperei a confirmação que não veio, as entradas acabaram. Confesso que sem poder ir ao Rock in Rio não estava empolgado com o retorno do festival ao Brasil.

Eu vou

Sábado, então, saí de mochila nas costas, cobertor e travesseiro na mão. Dezenas de pessoas esperavam para embarcar. O comboio chegou uma hora depois do horário combinado. Até chegar ao Rio de Janeiro, muitos DVDs de heavy metal, várias horas de sono, algumas paradas para comer, truco e, só no ônibus em que viajava, dois isopores cheios de água, refrigerante e cerveja – havia mais estocado, claro, mas não sobrou nada para a volta.

Chegamos ao Rio depois de 18 horas de viagem. Passamos por uma área cinzenta, cheia de pichações e pobreza. Depois, fomos pela Linha Amarela, vimos um pedaço do Complexo do Alemão – algumas pessoas da excursão tiraram fotos – e o estádio Engenhão.

Do ônibus também podíamos ver a igreja da Penha, mas nada de Cristo Redentor, encoberto pelas nuvens daquele dia nublado. Estaria Ele tímido em aparecer para os “metaleiros”? Em cruzamentos próximos à Cidade do Rock, evangélicos seguravam faixas de “Um mundo melhor só com Jesus”, parodiando o slogan do Rock in Rio. Toda essa situação lembrou que rockeiros ainda são associados ao satanismo. Pura ignorância.

Perdi o show do Matanza porque um dos ônibus da excursão foi parado em uma blitz e fomos obrigados a parar e esperar. Chegamos já com a banda Korzus no palco. Enquanto eu e mais sete pessoas da excursão procurávamos o melhor lugar, o vocalista discursava contra a corrupção para depois fazer o público cantar o hino nacional. Durante o show da próxima banda, o Angra, comentava como seria interessante se a convidada Tarja Turunen cantasse “Carry on”, minha música favorita, junto com o vocalista Edu Falaschi, que tem dificuldade em atingir as partes agudas. Foi o show em que eu sabia de cor e cantei quase todas as músicas.

A próxima a se apresentar no palco Sunset era o Sepultura. Já havia anoitecido e o grupo em que eu estava decidiu ir para o outro lado da plateia para ficar mais perto do palco Mundo e depois sair rápido para procurar um lugar. Não conseguimos ficar até o final do show. Era muita gente na frente – muitos que saíram do show do Glória – e só fomos conseguir uma visão da lateral, quando já estávamos indo em direção do palco Mundo.

Depois de passear por stands, lojas oficiais do parque – não havia mais camisetas tamanho G com a estampa que eu queria –, e espaços de patrocinadores, aproveitamos o show da desconhecida banda Coheed and Cambria para tirar fotos na entrada da Cidade do Rock e da roda gigante. Sentamos na grama sintética até que tocaram “The Trooper”, cover do Iron Maiden (veja no vídeo).


Cerca de meia hora depois, entrou o Motörhead, do vocalista Lemmy, de voz rouca – será de tanto beber whisky? – que canta para cima e sempre começa o show assim: “Nós somos o Motörhead e tocamos rock ‘n’ roll.” Conheci a frase por um dos DVDs assistidos na viagem e me impressionou a humildade em repeti-la, mesmo após décadas de carreira. Aproveitei o show seguinte, do Slipknot, para me poupar. Balançava a cabeça acompanhando o ritmo da música e observava o espetáculo, enquanto a maioria das pessoas ao meu redor cantava todas as músicas, gritava e obedecia ao vocalista.

O melhor ficou para o final. Mesmo sabendo poucos versos das músicas clássicas do Metallica – apelando algumas vezes para o embromation –, as partes que conhecia cantei a plenos pulmões. O que também me deixou muito cansado e com as pernas doendo foi vibrar e pular muito. Coitada da garota atrás mim. Medindo seu metro e meio, com certeza enxergou menos que eu. Perdi a conta de quantas vezes olhei para trás e dei aquele passinho para o lado, mesmo que toda vez que eu perguntava, ela dizia conseguir ver o palco.