Sexta-feira, 24 de setembro de 2011. Como de costume, as
pessoas esperam ansiosas pelo fim de expediente e a chegada do fim de semana. Eu finalizava um trabalho freelancer para depois entrar no
Facebook. Olho as atualizações até que aparece uma mensagem: havia aberto uma
vaga para a excursão para o dia do metal no Rock in Rio!
Duas semanas antes, frustrei-me por não poder embarcar na
excursão para o show das bandas Judas Priest/Whitesnake em São Paulo e também
para ver o Blind Guardian em Curitiba. Com duas das três parcelas pagas, perdi
a viagem porque Blumenau sofria com mais uma enchente. O serviço de trânsito
não recomendava a circulação de veículos por causa dos alagamentos. Depois, com
queda no nível do rio, o transporte coletivo voltou a funcionar, mas com as
rotas um pouco modificadas, o que interferiu no tempo do trajeto dos ônibus. Não
vi táxis nas ruas.
Voltando ao dia 24, logo mandei um e-mail para garantir a
vaga. Mesmo sabendo cantar pouco das músicas de Metallica, Sepultura ou
Motörhead, foi a chance de eu ir a um Rock in Rio – não sei haverá outra
oportunidade – e de dar outro destino àquele dinheiro do show que não pude ir. Antes
de começar a venda de ingressos, havia um boato de que o AC/DC poderia tocar no
festival. Esperei a confirmação que não veio, as entradas acabaram. Confesso que sem poder ir ao Rock in Rio não estava empolgado com o retorno do festival ao Brasil.
Eu vou
Sábado, então, saí de mochila nas costas, cobertor e travesseiro
na mão. Dezenas de pessoas esperavam para embarcar. O comboio chegou uma hora
depois do horário combinado. Até chegar ao Rio de Janeiro, muitos DVDs de heavy
metal, várias horas de sono, algumas paradas para comer, truco e, só no ônibus em
que viajava, dois isopores cheios de água, refrigerante e cerveja – havia mais
estocado, claro, mas não sobrou nada para a volta.
Chegamos ao Rio depois de 18 horas de viagem. Passamos por uma
área cinzenta, cheia de pichações e pobreza. Depois, fomos pela Linha Amarela, vimos
um pedaço do Complexo do Alemão – algumas pessoas da excursão tiraram fotos – e
o estádio Engenhão.
Do ônibus também podíamos ver a igreja da Penha, mas nada de
Cristo Redentor, encoberto pelas nuvens daquele dia nublado. Estaria Ele tímido
em aparecer para os “metaleiros”? Em cruzamentos próximos à Cidade do Rock, evangélicos
seguravam faixas de “Um mundo melhor só com Jesus”, parodiando o slogan do Rock
in Rio. Toda essa situação lembrou que rockeiros ainda são associados ao
satanismo. Pura ignorância.
Perdi o show do Matanza porque um dos ônibus da excursão foi
parado em uma blitz e fomos obrigados a parar e esperar. Chegamos já com a
banda Korzus no palco. Enquanto eu e mais sete pessoas da excursão procurávamos
o melhor lugar, o vocalista discursava contra a corrupção para depois fazer o público
cantar o hino nacional. Durante o show da próxima banda, o Angra, comentava
como seria interessante se a convidada Tarja Turunen cantasse “Carry on”, minha
música favorita, junto com o vocalista Edu Falaschi, que tem dificuldade em
atingir as partes agudas. Foi o show em que eu sabia de cor e cantei quase
todas as músicas.
A próxima a se apresentar no palco Sunset era o Sepultura.
Já havia anoitecido e o grupo em que eu estava decidiu ir para o outro lado da
plateia para ficar mais perto do palco Mundo e depois sair rápido para procurar um
lugar. Não conseguimos ficar até o final do show. Era muita gente na frente –
muitos que saíram do show do Glória – e só fomos conseguir uma visão da
lateral, quando já estávamos indo em direção do palco Mundo.
Depois de passear por stands, lojas oficiais do parque – não
havia mais camisetas tamanho G com a estampa que eu queria –, e espaços de patrocinadores,
aproveitamos o show da desconhecida banda Coheed and Cambria para tirar fotos
na entrada da Cidade do Rock e da roda gigante. Sentamos na grama sintética até
que tocaram “The Trooper”, cover do Iron Maiden (veja no vídeo).
Cerca de meia hora depois, entrou o Motörhead, do vocalista
Lemmy, de voz rouca – será de tanto beber whisky? – que canta para cima e
sempre começa o show assim: “Nós somos o Motörhead e tocamos rock ‘n’ roll.”
Conheci a frase por um dos DVDs assistidos na viagem e me impressionou a
humildade em repeti-la, mesmo após décadas de carreira. Aproveitei o show
seguinte, do Slipknot, para me poupar. Balançava a cabeça acompanhando o ritmo
da música e observava o espetáculo, enquanto a maioria das pessoas ao meu redor
cantava todas as músicas, gritava e obedecia ao vocalista.