Ponte destruída na tragédia de 2008 no bairro Progresso, em Blumenau. (Jaime Batista da Silva) |
“Eu estava em casa escutando o rádio e vi que estava acontecendo algo horrível na cidade e principalmente no meu bairro. Notei que estava na frente das notícias e os órgãos de imprensa precisavam das informações. Então decidi pegar minha máquina fotográfica e minha bicicleta, pois não podia sair de carro. Estava tudo parado por causa da enchente. Então, fui na chuva mesmo com a máquina embaixo da camisa para não molhar.”
Embora pareça uma atitude de um jornalista fora do horário de trabalho, as linhas acima descrevem a atitude de um cidadão comum que leva a divulgação de informações tão a sério quanto qualquer profissional. “Eu pensava que poderia não voltar, mas eu pensei: ‘Não. Eu tenho informação. As pessoas precisam fazer isso, por que se pode conseguir donativos.’ Me senti muito triste, mas também útil e muito orgulhoso pelo serviço que eu estava fazendo, pois com isto Blumenau conseguiu muita ajuda do povo brasileiro.”
E assim Jaime Batista da Silva, bancário, começou a colaborar com fotos para jornais da região e textos para espaços como vc repórter e VC no G1. “Vi a necessidade de informar os outros de algo que não havia nenhum jornalista na área naquele momento.”
Aqueles dias com notícias constantes sobre a cheia dos rios e quedas de encostas para os moradores do Vale do Itajaí e outras regiões de Santa Catarina não foram a primeira oportunidade que Jaime teve para ser um “repórter fotográfico voluntário”, como ele mesmo se define. Em 2008, antes da tragédia, embora em menor quantidade, ele já tirava fotos e enviava material para jornais de Blumenau e Gaspar, onde trabalhava. “Simplesmente eu enviava as fotos para ajudar os jornais e também para me sentir útil e orgulhoso pela sugestão [material] enviada.”
Sucesso na capa dos jornais e na tela do computador
Jaime estima que tenha mais de 300 publicações no canal vc repórter do portal Terra. Assim, o repórter voluntário de Blumenau se tornou o segundo maior colaborador, atrás apenas de um carioca, merecendo destaque do próprio serviço em 2009. Jaime revela preferência pelo site porque “sei que no vc repórter tem profissionais de jornalismo que irão ligar e se inteirar sobre o assunto que eu sugeri para a reportagem” Ele reclama do VC no G1, das Organizações Globo, porque a equipe do site não entra em contato para confirmar as informações. Por isso, Jaime decidiu não continuar colaborando com o G1, parando em aproximadamente 50 publicações.
Fora da internet, a participação do bancário aparece em jornais de Blumenau. Jaime conta, orgulhoso, que o Jornal de Santa Catarina publicou mais de 50 fotos suas, sendo três na capa. No ‘Santa’, Jaime também participou do Conselho do Leitor, que analisa voluntariamente o conteúdo do jornal impresso e internet. “Este serviço eu gostei muito, pois conheci pela primeira vez um jornal e como ele é feito. Tudo isto me motiva a optar por esta paixão que tenho pelo jornalismo.”
O jornal Folha de Blumenau também usa fotos de Jaime. Segundo o repórter voluntário, nem precisa que ele envie, “eles [profissionais da Folha] mesmos pegam no meu blog para publicar no jornal e no site deles”. O material produzido por Jaime também ilustra sites de rádios de Blumenau e outros blogs.
Porém, os jornais não aproveitam todas as fotos enviadas por Jaime. Foi por isso que em maio de 2009, seis meses após a tragédia que aumentou a vontade de colaborar com a cobertura jornalística, Jaime criou seu blog. Desde então são mais de 600 mil acessos, dos quais cerca de 2 mil todo dia. “O meu blog hoje é referência para as pessoas e também para os jornalistas de Blumenau”, afirma Jaime.
“Em qualquer site de busca que você digitar sobre notícias de Blumenau, vai aparecer algo relacionado ao Blog do Jaime. Isto me deixa feliz, pois estou deixando a minha marca na história de Blumenau e sei que isto será útil para as pessoas hoje e para o futuro.” São mais 4.400 publicações, segundo o repórter voluntário. Ele admite que não conhecia blogs antes catástrofe climática de 2008, nem tinha interesse.
Siga o exemplo
De acordo com Béio Cardoso, professor de Jornalismo Digital no Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), compartilhar informações interessantes motiva as pessoas a fazer o mesmo, ainda mais em casos de número de acessos expressivo, como Jaime Batista.
Espelhar-se em alguém faz parte de tentativa de se destacar, segundo Béio. “Na real, todo mundo busca uma certa notoriedade, um reconhecimento pelo seu trabalho. A gente fala os 15 minutos de fama na TV, os números de acesso na internet, visualizações no YouTube e assim por diante.”
O professor do Ibes afirma que se deve postar regularmente em seu blog e comentar em outros para conquistar leitores. “Se eu não faço isso, não sou visto, não sou lembrado. Dependendo do assunto, a pessoa se sente motivada a comentar, participar...”
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