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terça-feira, 28 de junho de 2011

A descoberta da beira do rio

Conhecida como uma das maiores cidades de Santa Catarina, é difícil imaginar que Blumenau tenha alguma semelhança com municípios do interior. Alguns moradores contrariam esse pensamento quando pescam às margens do rio Itajaí-Açu, no Centro. (Veja os depoimentos)


Segundo Daniel Cardoso Mafra, fiscal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Itajaí, quem usa mais de um anzol precisa de licença de pescador amador. Mafra cita ainda que só profissionais podem pescar com rede em rios. Se precisarem, maiores de 65 anos e aposentados não pagam pela licença permanente, mas devem apresentar os documentos para comprovar. Mais informações no site do Ministério da Pesca e Aquicultura.

Já houve campeonato em Blumenau

Sueli Petry, historiadora e diretora do Arquivo Histórico de Blumenau, afirma que a pesca no Rio Itajaí-Açú é uma tradição antiga. Durante a década de 1960, uma loja chegou a promover campeonatos. A historiadora aponta as seguidas enchentes como uma das causas da diminuição dos peixes no rio. (Clique na barra abaixo para ouvir a entrevista)





Em primeiro plano, os jurados na Prainha.
Terminada a competição, todos iam comer peixe.
(Arquivo Histórico de Blumenau)

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Pescar peixe grande em rio poluído pode ser azar

Embora haja lançamento de esgoto sem tratamento no Rio Itajaí-Açú, a maioria dos pescadores do Centro de Blumenau come os peixes. Os entrevistados acreditam que evitam problemas de saúde durante o preparo do pescado. Para especialista, a segurança do consumo depende das condições do rio.

Celso Burgel é um dos que não vê problema em comer peixes do rio, mesmo sabendo que o esgoto é despejado na água. “O rio não vai pra a praia e todo mundo não vai tomar banho lá?”

Celso come peixes do Rio Itajaí-Açú. Não faria
isso se soubesse da relação
entre o peso e a poluição.
(Reprodução/Kunimund Krönke Junior)
Segundo Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), o risco de uma pessoa ter problemas de saúde ao consumir peixes que vivem no Rio Itajaí-Açú é pequeno. Todas as espécies possuem estruturas de defesa no organismo, mas há um limite de tolerância à poluição, que pode ser ultrapassado, dependendo da concentração de substâncias tóxicas na água.

A quantidade varia de acordo com o volume do rio. Durante as entrevistas, o nível estava baixo. Nesse caso, não é aconselhado consumir os peixes porque há maior concentração de poluentes. Com os índices dentro do tolerável, o organismo dos peixes consegue absorver as substâncias tóxicas.

De acordo com o professor Bertelli, a maioria das espécies do Rio Itajaí-Açú vive, no máximo, três anos. Nesse tempo, o peixe não acumula tantos poluentes no organismo, o que não representa ameaça à saúde. Se soubesse disso, Celso Burgel teria ficado preocupado. Ele contou que já pescou uma Carpa Capim de 15 kg, que, segundo o professor Bertelli, teria entre oito e dez anos.

Mais limpo, apesar do esgoto

Segundo o gerente de controle de poluição da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Blumenau (Faema), Tiago Krabbe, o nível de poluição do Rio Itajaí-Açú é considerado bom, dentro da classificação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Comparando medições nos bairros Passo Manso e Vorstadt, Krabbe afirma que a qualidade da água melhora no percurso pelo aumento de oxigênio dissolvido. Já nos ribeirões Garcia e da Velha a concentração de poluentes é proporcionalmente maior que no leito do Rio Itajaí-Açú.

Para o professor Pedro Wilson Bertelli, a poluição industrial ainda “é forte”, mas tem diminuído por força da lei e dos órgãos de fiscalização. Bertelli também cita o esgoto doméstico como fonte poluidora, já que atualmente apenas 6% é tratado. Segundo a assessoria de comunicação, a empresa concessionária planeja ampliar o tratamento para 60% em 2012.

Atenção para não contaminar a carne do peixe

Temperar o peixe com vinagre, sal ou limão
não é certeza do fim de substâncias tóxicas e parasitas.
(blog Canário & Cia./sxc.hu)
Apenas um dos pescadores disse que não consome o que pesca. Os outros fazem algo durante o preparo que possa reduzir a chance de intoxicação. Celso Burgel tempera com vinagre e limão “porque desinfeta”. Deógenes Angonese, que só leva peixes grandes para comer, e Enio Brandl limpam e deixam o pescado de molho no vinagre. Deógenes diz que lava o peixe em água corrente também.

“O perigo não está tanto no rio, mas na hora que vai limpar”, afirma Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb). Durante a limpeza do pescado, deve haver cuidado para não misturar a carne ao fígado, por exemplo, onde ficam armazenados metais pesados. Limpar o peixe também tira parasitas.

Embora afirme que receitas caseiras não têm comprovação científica e por isso não existe certeza que temperar com limão, vinagre ou sal elimine substâncias tóxicas e parasitas, Bertelli explica o processo. Colocar sal, por exemplo, causa desidratação, podendo matar esses organismos porque dependem de água. Por esse motivo, os parasitas externos morrem junto quando se tira o peixe do rio. O professor também alerta que lavar o pescado apenas com água corrente não é suficiente.

Pesquisa do laboratório de Biologia Animal da Furb revelou que a maioria dos entrevistados frita o peixe pescado no Rio Itajaí-Açú. Mas, já antes de chegar à cozinha, a diferença de temperatura impede que esses organismos sobrevivam dentro do corpo humano.


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Espécies exóticas são 90% da fauna do Rio Itajaí-Açú
em Blumenau. De cima para baixo: carpa de cabeça grande,
tilápia, carpa comum, bagre africano (à direita) e carpa capim.
(Arte/Jaime Batista/Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação/Anuário Escandinavo de Peixes/Revista Geológica
dos EUA/Robbie N. Cada/Ministério de Pecuária,
Agricultura e Pesca do Uruguai)

A maior parte dos peixes no Rio Itajaí-Açú em Blumenau veio de outros países. Espécies como tilápia, bagre africano e carpa chegam a partir de lagoas comerciais ou são simplesmente liberadas no rio. A pesca pode ajudar a, pelo menos, manter a proporção.

De acordo com o professor Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes, 90% dos peixes catalogados pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), e que habitam o trecho do rio que corta a cidade, são exóticos. A maioria dos pescadores, com quem a reportagem conversou no Centro de Blumenau, citou a carpa comum (Ásia e Europa), a tilápia (África), a carpa capim (Ásia), o bagre africano (África e Ásia) e a carpa de cabeça grande (Ásia e Europa).

Deógenes Angonese, um dos pescadores do Centro, conta que lagoas de pesque-pague transbordaram durante tragédia de novembro de 2008 e muitos peixes caíram nos ribeirões, chegando depois a Rio Itajaí-Açú. O professor Bertelli completa informando que o mesmo pode ter acontecido nas enchentes de 1983 e 1984.

Entretanto, os peixes não migram sozinhos. Quando criadores recolhem os alevinos (filhotes) para comercialização, alguns caem por entre as linhas e outros a rede não alcança. Então, as comportas da lagoa são abertas e os peixes liberados no rio.

Bertelli revela que até o poder público colabora com a introdução de novas espécies. O professor acredita que, por desinformação, a prefeitura empresta veículos para que seja feito o repovoamento de rios e barragens com espécies exóticas, o que é proibido. De acordo com a historiadora Sueli Petry, houve uma tentativa de povoar o rio com espécies nativas nos anos 1950. Coincidentemente, todas as carpas, a tilápia e o bagre africano fazem parte da fauna do rio há mais de 50 anos, segundo Bertelli.

Essa entrada de espécies exóticas no Rio Itajaí-Açú pode ameaçar as espécies nativas. Segundo o professor Bertelli, peixes nativos e exóticos podem ter hábitos semelhantes e competir por alimento. Então, só a espécie mais forte vai sobreviver.

Para mais informações sobre peixes, acesse o site FishBase (em inglês)

Pesca esportiva

Rodrigo Valcanaia é um dos poucos pescadores entrevistados que pratica a pesca esportiva – ou seja, fisga o peixe, bate foto e depois solta. Para o professor Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes, devolver o peixe ao rio não contribui para a preservação de espécies nativas.

Pesquisa da Universidade Regional de Blumenau (Furb), em fase de conclusão, aponta que os peixes maiores são os mais capturados no Rio Itajaí-Açú. Eles são os reprodutores e favoritos dos pescadores. Segundo Bertelli, “seria bom para o ecossistema”, se apenas as espécies exóticas fossem capturadas.

Comparando a lista de espécies catalogadas pela Furb com a relação de animais aquáticos ameaçados de extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), não é possível afirmar que existam peixes em perigo no Rio Itajaí-Açú porque os pesquisadores da Furb ainda não identificaram detalhadamente algumas espécies.


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segunda-feira, 20 de junho de 2011

A rotina do Nova Blumenau

Márcio: manter um blog é mais fácil
quando se trabalha com internet
(Arquivo pessoal)

Márcio Volkmann não mantém um blog profissionalmente, mas é conectado que ele ganha a vida. Márcio cria, administra e monitora perfis de empresas em redes sociais. Também trabalha com o licenciamento de produtos do Clube Atlético Metropolitano, cujas contas no Twitter e no Facebook mantém voluntariamente. Por isso, Márcio deixou a representação comercial um pouco de lado, agora restrita a clientes antigos que o procuram.

Com tanta coisa para fazer, levou tempo para que Márcio Volkmann me respondesse. Esperava suas informações para colocá-las junto com as do blogueiro Jaime Batista. Recebi a resposta de Márcio no dia 2 de maio. Ele se desculpou nas primeiras linhas do e-mail. “Tá corrido pra caramba ultimamente.”

Como este blog é pessoal e tenho a liberdade de colocar o que eu gostaria, decidi usar as informações para não desperdiçar o tempo que Márcio gastou para me responder.

Por trabalhar conectado diariamente, atualizar o blog fica mais fácil. Durante o tempo que passa se comunicando com clientes e cuidando de perfis corporativos nas redes sociais, Márcio também recebe e lê releases. Ele afirma que só publica informações oficiais do poder público ou de outras fontes consideradas confiáveis, como das equipes que representam Blumenau no futebol, futsal, vôlei, handebol e outras assessorias de comunicação. Márcio diz ter se inscrito para receber as informações dos órgãos públicos e com o tempo foi procurado por mais assessorias de comunicação.

O blogueiro também publica notícias sobre desaparecimentos, ofertas de emprego, doação de sangue, entre outras informações de utilidade pública, sempre verificando antes. Além disso, o Márcio escreve opiniões sobre lugares que visita e gosta e oferece espaço a artistas locais, vídeos ‘bacanas’ e piadas desde o início do Nova Blumenau. É a quantidade de informações, incluindo sugestões de leitores, que determina quantas vezes por dia o blog será atualizado.

Os únicos assuntos de fora são política – “até para manter uma neutralidade, que julgo muito importante” – e ocorrências policiais, com o objetivo de manter o pensamento positivo, necessário em novembro de 2008, quando o blog foi criado.

Embora não se considere jornalista, Márcio Volkmann atualiza o Nova Blumenau todos os dias, até mais de uma vez. Segundo o professor de Jornalismo Digital do Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), Béio Cardoso, quanto menor a demora em colocar material novo, mais pessoas podem se interessar pelo blog.

Atualmente, o Nova Blumenau recebe entre 1.500 e 2 mil acessos por dia. Essa audiência faz o blogueiro oferecer espaço para anunciar no blog e sugerir promoções a empresas, que também o procuram. Márcio investe o dinheiro extra em equipamentos para melhorar o atendimento aos clientes: conexão 3G (como alternativa, caso dê algum problema), disco rígido externo para fazer cópias de segurança, entre outros. “Claro que sobra [uma parte] para mim também!”, diz Márcio, em tom de brincadeira.


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Palavras de recuperação

Em novembro de 2008, Márcio Volkmann ainda se recuperava da ruptura de um dos tendões de Aquiles e de complicações que aconteceram durante o tratamento. De cama e sem poder trabalhar, Márcio começou a usar as redes sociais para saber as notícias de Blumenau e região.

“Se não podia ajudar a recolher desabrigados, a separar donativos, eu poderia tentar fazer alguma coisa, ajudar com o que melhor sei: escrever...”, pensou Márcio. Então, ele decidiu motivar a população com uma crônica, enviada para cerca de 30 amigos. Surpreendentemente, a mensagem (leia abaixo), antes restrita, tornou-se uma corrente de e-mails, sendo depois publicada em dezenas de perfis do Orkut e citada em blogs, sites, em programas de rádio e de TV.

Fênix
(Márcio Volkmann)

A natureza é impiedosa. Blumenau foi e é manchete nos noticiários não como estávamos acostumados. Aconteceu...
Soterrados foram muitos corações. Inundados muitos sonhos. Lembro de Carlos Drummond de Andrade, em seus versos:
E agora, José?
Reconstrução: máquina trabalha em obra de galeria destruída
(Reprodução/YouTube/Prefeitura Municipal de Blumenau)
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
E agora? E agora Blumenau?
E agora? Agora Blumenau voltará a ser a cidade que impressionou todo o mundo nos primórdios dos anos oitenta. Tal qual Fênix, ela ressurgiu. E agora não será diferente.
Foram-se vidas, foram-se paredes, muros, morros, mas ficou algo que não escoa nos bueiros. A essência. A essência do nosso povo.
O povo que se doa, calça suas botas, troca carro por canoa e que estende o braço a quem precise. O povo que levanta as mangas e junto com a lama leva pra fora de casa um passado que quer esquecer.
O povo que inunda de esperanças toda uma região devastada, com doações de todos gêneros, que trazem alento a quem precisa. Logo, suas chaminés estarão de volta. O progresso, tal qual em nosso hino, mora aqui. E como nossa gente, não irá abandoná-la.
Breve, nossas bandinhas estarão de volta, em coretos limpos, sem a água como vizinha.
E em breve, nossos irmãos de todo o Brasil, blumenauenses honorários de coração e que transformaram as estradas do nosso estado em um verdadeiro corredor de solidariedade, serão acolhidos aqui com a mesma alegria de sempre, em nossas casas enxaimel, em nossas ruas limpas, em nossas festas.
Pra frente Blumenau! Seu povo é sua força motora, e juntos faremos uma Blumenau ainda melhor, pra quem quiser ver. Eu quero. E você???

“Foi algo inesperado, mas, muito, muito gratificante. Afinal, através de palavras eu conseguia passar algo que as pessoas precisavam muito naquela ocasião: esperança.” Do sucesso da crônica, surgiu a ideia de começar um blog, o que Márcio acreditava não ser tão difícil.

Apesar de não saber como fazer o site, nem o que publicar nele, Márcio Volkmann tinha certeza de que não escreveria sobre política – “até para manter uma neutralidade, que julgo muito importante” – e ocorrências policiais. O blogueiro justifica a escolha afirmando que era necessário pensar positivamente naquela época. Dessa maneira, Márcio oferece, desde o começo, espaço a artistas locais, vídeos ‘bacanas’, piadas, além de publicar informações de utilidade pública, da administração pública, esportes, cultura e lazer.

Mesmo sem ser atualizado há quase um ano, o blog antigo ainda tem, em média, 30 mil acessos por mês. “Isso graças a várias matérias muito bem localizadas nas pesquisas Google, como por exemplo, uma matéria sobre o turismo em Blumenau”, explica Márcio. Ele também participou da cobertura da tragédia de novembro de 2008, enviando material para o VC Repórter (Terra) e o Minha Notícia (IG).



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domingo, 19 de junho de 2011

Centenas de skatistas comemoram o primeiro Go Skateboarding Day em Blumenau

Atualizado com números finais e vídeo em 04/07, às 21h


Aconteceu neste domingo (19) a primeira comemoração do Go Skateboarding Day em Blumenau. Cerca de mil pessoas – das quais 300 skatistas – foram até o Parque Ramiro Ruediger para andar de skate, concorrer a brindes e ver exposições de shapes (a tábua sobre a qual o skatista se equilibra).

Na verdade, o evento foi antecipado em Blumenau para não atrapalhar o trânsito, já que se comemora o Go Skateboarding Day (“Dia de Andar de Skate”, em tradução livre do inglês) no dia 21 de junho, mas neste ano a data caiu em uma terça-feira.

Skatistas de Blumenau e simpatizantes foram convidados a participar pelo Facebook. Enquanto uma página dava informações sobre as atividades no Parque Ramiro Ruediger – organizadas por representantes da União Blumenauense de Esportes Radicais (UBER), Federação Catarinense de Skate (FCSKT) e lojistas – outra foi criada para organizar um passeio até o local do evento (veja no mapa). Mais de 70 pessoas saíram do antigo Biergarten após às 15h, mesmo horário do evento no parque.

Percurso dos skatistas na comemoração em Blumenau.
Clique aqui para ampliar (Google Maps)

Três motos e um carro do Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb) fizeram a escolta dos skatistas até o Parque Ramiro Ruediger, parando o trânsito para que o grupo pudesse se espalhar por toda a pista durante o trajeto. Mesmo com o cuidado dos agentes de trânsito, alguns skatistas fizeram manobras ao longo do percurso, correndo risco de se machucar e até mesmo serem atropelados pelo carro do Seterb, que seguia atrás do grupo. O trânsito foi interrompido na rua Zenaide Santos de Souza, ao lado do Parque Ramiro Ruediger, durante o evento, que terminou oficialmente às 18h.

Go Skateboarding Day ao redor do mundo (esquerda);
no Parque Ramiro (D, em cima)
e cartaz do passeio (Divulgação/IASC e Reprodução/Facebook)
Segundo um dos organizadores, Tiago Pavan, o passeio tinha a intenção de simplesmente “reunir a galera e se divertir”. O Go Skateboarding Day (clique para entrar no site, em inglês) é comemorado anualmente desde 2003 no dia 21 de junho, em várias partes do mundo. A data foi criada pela Associação Internacional de Companhias de Skate (IASC) (site também em inglês) para que os skatistas se dedicassem ao esporte e se divertissem nesse dia.


Mais que esporte ou diversão


Aproveitando o evento no Parque Ramiro Ruediger, perguntamos aos participantes o que significa para eles andar de skate. A maioria considera mais que um esporte ou um jeito de se divertir. Há também quem tenha mudado de opinião depois que começou a andar de skate. Veja o vídeo.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fotos em nome da solidariedade

Ponte destruída na tragédia de 2008
no bairro Progresso, em Blumenau. (Jaime Batista da Silva)

“Eu estava em casa escutando o rádio e vi que estava acontecendo algo horrível na cidade e principalmente no meu bairro. Notei que estava na frente das notícias e os órgãos de imprensa precisavam das informações. Então decidi pegar minha máquina fotográfica e minha bicicleta, pois não podia sair de carro. Estava tudo parado por causa da enchente. Então, fui na chuva mesmo com a máquina embaixo da camisa para não molhar.”

Embora pareça uma atitude de um jornalista fora do horário de trabalho, as linhas acima descrevem a atitude de um cidadão comum que leva a divulgação de informações tão a sério quanto qualquer profissional. “Eu pensava que poderia não voltar, mas eu pensei: ‘Não. Eu tenho informação. As pessoas precisam fazer isso, por que se pode conseguir donativos.’ Me senti muito triste, mas também útil e muito orgulhoso pelo serviço que eu estava fazendo, pois com isto Blumenau conseguiu muita ajuda do povo brasileiro.”

E assim Jaime Batista da Silva, bancário, começou a colaborar com fotos para jornais da região e textos para espaços como vc repórter e VC no G1. “Vi a necessidade de informar os outros de algo que não havia nenhum jornalista na área naquele momento.”

Aqueles dias com notícias constantes sobre a cheia dos rios e quedas de encostas para os moradores do Vale do Itajaí e outras regiões de Santa Catarina não foram a primeira oportunidade que Jaime teve para ser um “repórter fotográfico voluntário”, como ele mesmo se define. Em 2008, antes da tragédia, embora em menor quantidade, ele já tirava fotos e enviava material para jornais de Blumenau e Gaspar, onde trabalhava. “Simplesmente eu enviava as fotos para ajudar os jornais e também para me sentir útil e orgulhoso pela sugestão [material] enviada.”

Sucesso na capa dos jornais e na tela do computador

Jaime estima que tenha mais de 300 publicações no canal vc repórter do portal Terra. Assim, o repórter voluntário de Blumenau se tornou o segundo maior colaborador, atrás apenas de um carioca, merecendo destaque do próprio serviço em 2009. Jaime revela preferência pelo site porque “sei que no vc repórter tem profissionais de jornalismo que irão ligar e se inteirar sobre o assunto que eu sugeri para a reportagem” Ele reclama do VC no G1, das Organizações Globo, porque a equipe do site não entra em contato para confirmar as informações. Por isso, Jaime decidiu não continuar colaborando com o G1, parando em aproximadamente 50 publicações.

Fora da internet, a participação do bancário aparece em jornais de Blumenau. Jaime conta, orgulhoso, que o Jornal de Santa Catarina publicou mais de 50 fotos suas, sendo três na capa. No ‘Santa’, Jaime também participou do Conselho do Leitor, que analisa voluntariamente o conteúdo do jornal impresso e internet. “Este serviço eu gostei muito, pois conheci pela primeira vez um jornal e como ele é feito. Tudo isto me motiva a optar por esta paixão que tenho pelo jornalismo.”

O jornal Folha de Blumenau também usa fotos de Jaime. Segundo o repórter voluntário, nem precisa que ele envie, “eles [profissionais da Folha] mesmos pegam no meu blog para publicar no jornal e no site deles”. O material produzido por Jaime também ilustra sites de rádios de Blumenau e outros blogs.

Porém, os jornais não aproveitam todas as fotos enviadas por Jaime. Foi por isso que em maio de 2009, seis meses após a tragédia que aumentou a vontade de colaborar com a cobertura jornalística, Jaime criou seu blog. Desde então são mais de 600 mil acessos, dos quais cerca de 2 mil todo dia. “O meu blog hoje é referência para as pessoas e também para os jornalistas de Blumenau”, afirma Jaime.

“Em qualquer site de busca que você digitar sobre notícias de Blumenau, vai aparecer algo relacionado ao Blog do Jaime. Isto me deixa feliz, pois estou deixando a minha marca na história de Blumenau e sei que isto será útil para as pessoas hoje e para o futuro.” São mais 4.400 publicações, segundo o repórter voluntário. Ele admite que não conhecia blogs antes catástrofe climática de 2008, nem tinha interesse.

Siga o exemplo

De acordo com Béio Cardoso, professor de Jornalismo Digital no Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), compartilhar informações interessantes motiva as pessoas a fazer o mesmo, ainda mais em casos de número de acessos expressivo, como Jaime Batista.

Espelhar-se em alguém faz parte de tentativa de se destacar, segundo Béio. “Na real, todo mundo busca uma certa notoriedade, um reconhecimento pelo seu trabalho. A gente fala os 15 minutos de fama na TV, os números de acesso na internet, visualizações no YouTube e assim por diante.”

O professor do Ibes afirma que se deve postar regularmente em seu blog e comentar em outros para conquistar leitores. “Se eu não faço isso, não sou visto, não sou lembrado. Dependendo do assunto, a pessoa se sente motivada a comentar, participar...”

Exposição

As fotos de Jaime ficam expostas na Câmara de Vereadores de Blumenau (anexo ao prédio da Prefeitura) até esta sexta-feira (3). A partir de segunda (6), o público poderá conferir o trabalho do repórter voluntário no Instituto Blumenauense de Ensino Superior – Ibes (Rua Pandiá Calógeras, 272), como parte do 4º Festival Interdisciplinar de Comunicação (ICOM).


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A credibilidade das notícias na internet
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A credibilidade das notícias na internet

Da esquerda para direita: Cristiane Soethe, Moacir Pereira,
Evandro de Assis e Alexandre Gonçalves. Evento discutiu a função
dos jornalistas com a popularização da internet. (Divulgação/Assimvi)
Durante a tragédia de novembro de 2008, o bancário Jaime Batista da Silva fez parte dos milhares de catarinenses que usaram a internet para trocar informações enquanto os veículos de comunicação enfrentavam problemas técnicos.

Segundo o professor de Jornalismo Digital no Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), Béio Cardoso, foi justamente no ano da catástrofe climática que as mídias sociais ‘estouraram’ e o compartilhamento de conteúdo na internet aumentou, seja com a publicação de fotos em sites de relacionamento (como Orkut) ou a informação via Twitter de quem tinha sido resgatado. “Aí, na minha opinião, Blumenau começou a se ligar que o Twitter era um coisa importante.”  

Para debater a função do jornalista com a popularização das mídias sociais, a Associação de Imprensa do Médio Vale do Itajaí (Assimvi), organizou um evento em maio deste ano no Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes). Cerca de 150 profissionais e estudantes de comunicação participaram do encontro com o Moacir Pereira (comentarista de política do Grupo RBS), Evandro de Assis (editor-executivo do Jornal de Santa Catarina) e Alexandre Gonçalves (editor de conteúdo).

A conclusão a que se chegou ao final do debate foi que, apesar da infinidade de pessoas que publica algo na internet (chamadas de “informantes” e “transmissores de notícias” durante o evento), não há garantia sobre a qualidade da informação divulgada. Por isso, jornalistas continuam importantes porque a credibilidade de seu trabalho vem da pesquisa e do compromisso ético em ouvir todas as partes envolvidas.

De hobby a responsabilidade jornalística

Embora não seja repórter profissional, Jaime se preocupa com garantir a credibilidade do que publica. “O que eu gosto de passar para os internautas do blog é a verdade do que eu vejo, sem sensacionalismo. Sou uma pessoa humilde e muito responsável e sei que estou levando o meu nome a público e tenho que ser responsável pelos meus atos. Faço um serviço que era apenas penas um hobby e que virou uma responsabilidade jornalística.”

No caso de reclamações da comunidade, como um buraco de rua, Jaime coloca no blog fotos de antes e depois que o problema é resolvido. Além disso, toma o cuidado de enviar o telefone de contato de pessoas responsáveis.

“A credibilidade que eu passo é que eu não tenho vínculo com política, empresas, imprensa, religião e outros. Sou independente e devo respeito aos meus internautas que acessam o blog e esperam de mim uma informação séria e com credibilidade. Eu vou nos eventos de livre e espontânea vontade com o intuito de buscar a notícia e nunca cobrei de ninguém este serviço.”

Para Béio Cardoso, o leitor do blog pode comprovar a qualidade da informação. “Se várias pessoas comentam que uma coisa está errada, aquilo perde a credibilidade. Então, as próprias pessoas que acessam o blog dele [Jaime], são as que vão fazer a supervisão do conteúdo.”


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Embora ofereça espaços para anunciar em seu blog, Jaime Batista da Silva repete que seu trabalho é voluntário e afirma que sua fonte de renda vem da atividade bancária. “Corro atrás das notícias, procuro me informar, faço as fotos, edito as fotos, converso com as pessoas. Tudo isto gratuitamente sem cobrar nada para publicar a notícia ou enviar as sugestões para os sites de notícias.”

Em sua defesa, Jaime explica que na verdade as empresas o procuraram aproveitando a vitrine para divulgar marcas que pode ser um site de 2 mil acessos diários. “Com este apoio que recebo do anúncio no blog eu faço a manutenção na minha máquina fotográfica e pago os custos que tenho com o combustível para correr atrás das notícias.”

Jaime carrega sua máquina para todo lado.
Repórter voluntário, leva a atividade a sério
mesmo assim. 
(Jaime Batista da Silva)
O tempo separa hobby do profissionalismo

Jaime trabalha em um banco e atualiza o blog pela manhã, antes de sair de casa, durante a hora do almoço e quando volta no final do expediente. “Nos finais de semana é a hora que mais me empolgo para atualizar o blog e correr atrás de notícias.”, diz o repórter voluntário. “Não consigo ficar sem saber as notícias e principalmente sem informar as pessoas que acessam o meu blog diariamente para saber as notícias da cidade.”

Por causa da tragédia de novembro de 2008, Jaime leva sua câmera fotográfica para todo lugar. “Isso aqui vai mostrar o que eu estou vendo e vou poder mostrar pro povo o que eu vi e pode ser notícia.” Além da imagem, o bancário publica informações de releases. “Eu mando uma sugestão, não vou fazer o texto, não dou a minha opinião. Só dou o fato.”

Mesmo não sendo jornalista profissional, Jaime afirma que leva o trabalho a sério. “Sou apaixonado pelo jornalismo e me dedico muito para fazer um bom trabalho. Posso te garantir que passou de um hobby para uma grande responsabilidade.”

O bancário quer transformar o blog em site, sem parar de trabalhar no banco, e pensa em outras mudanças. “Quem sabe eu faça um curso de jornalismo para me aperfeiçoar na área, mas por enquanto estou com meu tempo limitado e lotado.”
Federação Nacional dos Jornalistas
luta pela obrigatoriedade do diploma. (Divulgação)

A liberdade dada pelo STF

O Supremo Tribunal Federal julgou que não é obrigatório terminar o curso de Jornalismo para exercer a profissão. Mesmo beneficiado pela decisão, Jaime, formado em Ciências Contábeis, não concorda. “Para mim o jornalista tem que ter formação sim. Quando envio sugestão para o site do Terra ou para o Jornal de Santa Catarina eu fico mais tranquilo pois sei que um jornalista profissional irá verificar e irá dar todo o suporte que precisa para colocar no ar a publicação que sugeri.”

Para Aristeu Formiga, membro da diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, a decisão do STF “liberou geral”. No caso dos blogs, Formiga lembra que não é algo exclusivo de jornalistas. “Cabe ao leitor do blog escolher a informação que lhe pareça crível.”


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Público completa o noticiário

Página do vc repórter. Por aqui o cidadão comum pode enviar seu registro.
(Reprodução/vc repórter/Portal Terra)
"Hoje eu posso dizer que o jornalismo cidadão faz parte da minha vida e que eu fico muito feliz quando uma sugestão minha ou uma foto que enviei vira notícia através de profissionais qualificados de jornais e sites de notícias”, diz o bancário Jaime Batista da Silva, segundo maior colaborador do canal vc repórter do portal Terra.

De maneira resumida, chama-se jornalismo cidadão, colaborativo ou participativo a divulgação de informações na internet por pessoas comuns que testemunham fatos. Elas batem fotos, fazem vídeos e/ou escrevem textos sobre acontecimentos que jornais, revistas, emissoras de rádio e TV não cobrem.

Então, o material é geralmente enviado para espaços oferecidos em portais, como vc repórter e VC no G1 – em que o conteúdo passa pela avaliação de jornalistas profissionais – ou publicado em blogs. Esse tipo de participação do público aumentou com a popularização de câmeras de digitais – fotográficas, principalmente – e facilidade de acesso à internet.

“Os profissionais precisam da ajuda da comunidade para interagir e ter informações sobre o que está acontecendo nas cidades e onde muitas vezes um jornalista não está presente”, afirma Jaime, que mandava fotos para jornais da região de Blumenau e intensificou o trabalho depois da tragédia de 2008.

Há muitas dúvidas em relação à credibilidade e a qualidade do material enviado porque não é produzido por jornalistas profissionais, que teoricamente tem mais cuidado na apuração das informações. Mesmo assim, emissoras de TV atualmente pedem que os telespectadores enviem fotos e vídeos, também disponibilizando o contato da produção e outros meios de interação ao vivo entre apresentador e público.

Além dessas formas mais comuns de participação, Béio Cardoso, professor de Jornalismo Digital do Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), cita que alguns jornalistas antecipam o assunto das pautas pelas redes sociais. Assim, o público pode colaborar sugerindo fontes e até com material. “Eu não pego mais um conteúdo, guardo às sete chaves e depois mostro. Muito pelo contrário. Eu pego a bandeira: ‘Vou falar sobre isso... Me ajudem!’”

Assim, como os cidadãos que registram os fatos, o professor do Ibes fala que os jornalistas devem aproveitar as oportunidades quando têm câmeras digitais, conexões de internet móvel, entre outras facilidades tecnológicas à disposição no momento. “Se tem um acidente e a pessoa é médica, a pessoa vai ali e ajuda o acidentado. Se você é jornalista e aconteceu um fato, você tem que documentar. Um profissional da área de jornalismo tem que entender que isso tá no DNA dele.”

Exposição

As fotos de Jaime ficam expostas na Câmara de Vereadores de Blumenau (anexo ao prédio da Prefeitura) até esta sexta-feira (3). A partir de segunda (6), o público poderá conferir o trabalho do repórter voluntário no Instituto Blumenauense de Ensino Superior – Ibes (Rua Pandiá Calógeras, 272), como parte do 4º Festival Interdisciplinar de Comunicação (ICOM).


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