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terça-feira, 28 de junho de 2011

Pescar peixe grande em rio poluído pode ser azar

Embora haja lançamento de esgoto sem tratamento no Rio Itajaí-Açú, a maioria dos pescadores do Centro de Blumenau come os peixes. Os entrevistados acreditam que evitam problemas de saúde durante o preparo do pescado. Para especialista, a segurança do consumo depende das condições do rio.

Celso Burgel é um dos que não vê problema em comer peixes do rio, mesmo sabendo que o esgoto é despejado na água. “O rio não vai pra a praia e todo mundo não vai tomar banho lá?”

Celso come peixes do Rio Itajaí-Açú. Não faria
isso se soubesse da relação
entre o peso e a poluição.
(Reprodução/Kunimund Krönke Junior)
Segundo Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), o risco de uma pessoa ter problemas de saúde ao consumir peixes que vivem no Rio Itajaí-Açú é pequeno. Todas as espécies possuem estruturas de defesa no organismo, mas há um limite de tolerância à poluição, que pode ser ultrapassado, dependendo da concentração de substâncias tóxicas na água.

A quantidade varia de acordo com o volume do rio. Durante as entrevistas, o nível estava baixo. Nesse caso, não é aconselhado consumir os peixes porque há maior concentração de poluentes. Com os índices dentro do tolerável, o organismo dos peixes consegue absorver as substâncias tóxicas.

De acordo com o professor Bertelli, a maioria das espécies do Rio Itajaí-Açú vive, no máximo, três anos. Nesse tempo, o peixe não acumula tantos poluentes no organismo, o que não representa ameaça à saúde. Se soubesse disso, Celso Burgel teria ficado preocupado. Ele contou que já pescou uma Carpa Capim de 15 kg, que, segundo o professor Bertelli, teria entre oito e dez anos.

Mais limpo, apesar do esgoto

Segundo o gerente de controle de poluição da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Blumenau (Faema), Tiago Krabbe, o nível de poluição do Rio Itajaí-Açú é considerado bom, dentro da classificação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Comparando medições nos bairros Passo Manso e Vorstadt, Krabbe afirma que a qualidade da água melhora no percurso pelo aumento de oxigênio dissolvido. Já nos ribeirões Garcia e da Velha a concentração de poluentes é proporcionalmente maior que no leito do Rio Itajaí-Açú.

Para o professor Pedro Wilson Bertelli, a poluição industrial ainda “é forte”, mas tem diminuído por força da lei e dos órgãos de fiscalização. Bertelli também cita o esgoto doméstico como fonte poluidora, já que atualmente apenas 6% é tratado. Segundo a assessoria de comunicação, a empresa concessionária planeja ampliar o tratamento para 60% em 2012.

Atenção para não contaminar a carne do peixe

Temperar o peixe com vinagre, sal ou limão
não é certeza do fim de substâncias tóxicas e parasitas.
(blog Canário & Cia./sxc.hu)
Apenas um dos pescadores disse que não consome o que pesca. Os outros fazem algo durante o preparo que possa reduzir a chance de intoxicação. Celso Burgel tempera com vinagre e limão “porque desinfeta”. Deógenes Angonese, que só leva peixes grandes para comer, e Enio Brandl limpam e deixam o pescado de molho no vinagre. Deógenes diz que lava o peixe em água corrente também.

“O perigo não está tanto no rio, mas na hora que vai limpar”, afirma Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb). Durante a limpeza do pescado, deve haver cuidado para não misturar a carne ao fígado, por exemplo, onde ficam armazenados metais pesados. Limpar o peixe também tira parasitas.

Embora afirme que receitas caseiras não têm comprovação científica e por isso não existe certeza que temperar com limão, vinagre ou sal elimine substâncias tóxicas e parasitas, Bertelli explica o processo. Colocar sal, por exemplo, causa desidratação, podendo matar esses organismos porque dependem de água. Por esse motivo, os parasitas externos morrem junto quando se tira o peixe do rio. O professor também alerta que lavar o pescado apenas com água corrente não é suficiente.

Pesquisa do laboratório de Biologia Animal da Furb revelou que a maioria dos entrevistados frita o peixe pescado no Rio Itajaí-Açú. Mas, já antes de chegar à cozinha, a diferença de temperatura impede que esses organismos sobrevivam dentro do corpo humano.


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Espécies exóticas são 90% da fauna do Rio Itajaí-Açú
em Blumenau. De cima para baixo: carpa de cabeça grande,
tilápia, carpa comum, bagre africano (à direita) e carpa capim.
(Arte/Jaime Batista/Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação/Anuário Escandinavo de Peixes/Revista Geológica
dos EUA/Robbie N. Cada/Ministério de Pecuária,
Agricultura e Pesca do Uruguai)

A maior parte dos peixes no Rio Itajaí-Açú em Blumenau veio de outros países. Espécies como tilápia, bagre africano e carpa chegam a partir de lagoas comerciais ou são simplesmente liberadas no rio. A pesca pode ajudar a, pelo menos, manter a proporção.

De acordo com o professor Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes, 90% dos peixes catalogados pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), e que habitam o trecho do rio que corta a cidade, são exóticos. A maioria dos pescadores, com quem a reportagem conversou no Centro de Blumenau, citou a carpa comum (Ásia e Europa), a tilápia (África), a carpa capim (Ásia), o bagre africano (África e Ásia) e a carpa de cabeça grande (Ásia e Europa).

Deógenes Angonese, um dos pescadores do Centro, conta que lagoas de pesque-pague transbordaram durante tragédia de novembro de 2008 e muitos peixes caíram nos ribeirões, chegando depois a Rio Itajaí-Açú. O professor Bertelli completa informando que o mesmo pode ter acontecido nas enchentes de 1983 e 1984.

Entretanto, os peixes não migram sozinhos. Quando criadores recolhem os alevinos (filhotes) para comercialização, alguns caem por entre as linhas e outros a rede não alcança. Então, as comportas da lagoa são abertas e os peixes liberados no rio.

Bertelli revela que até o poder público colabora com a introdução de novas espécies. O professor acredita que, por desinformação, a prefeitura empresta veículos para que seja feito o repovoamento de rios e barragens com espécies exóticas, o que é proibido. De acordo com a historiadora Sueli Petry, houve uma tentativa de povoar o rio com espécies nativas nos anos 1950. Coincidentemente, todas as carpas, a tilápia e o bagre africano fazem parte da fauna do rio há mais de 50 anos, segundo Bertelli.

Essa entrada de espécies exóticas no Rio Itajaí-Açú pode ameaçar as espécies nativas. Segundo o professor Bertelli, peixes nativos e exóticos podem ter hábitos semelhantes e competir por alimento. Então, só a espécie mais forte vai sobreviver.

Para mais informações sobre peixes, acesse o site FishBase (em inglês)

Pesca esportiva

Rodrigo Valcanaia é um dos poucos pescadores entrevistados que pratica a pesca esportiva – ou seja, fisga o peixe, bate foto e depois solta. Para o professor Pedro Wilson Bertelli, especialista em Produção e Propagação de Peixes, devolver o peixe ao rio não contribui para a preservação de espécies nativas.

Pesquisa da Universidade Regional de Blumenau (Furb), em fase de conclusão, aponta que os peixes maiores são os mais capturados no Rio Itajaí-Açú. Eles são os reprodutores e favoritos dos pescadores. Segundo Bertelli, “seria bom para o ecossistema”, se apenas as espécies exóticas fossem capturadas.

Comparando a lista de espécies catalogadas pela Furb com a relação de animais aquáticos ameaçados de extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), não é possível afirmar que existam peixes em perigo no Rio Itajaí-Açú porque os pesquisadores da Furb ainda não identificaram detalhadamente algumas espécies.


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segunda-feira, 20 de junho de 2011

A rotina do Nova Blumenau

Márcio: manter um blog é mais fácil
quando se trabalha com internet
(Arquivo pessoal)

Márcio Volkmann não mantém um blog profissionalmente, mas é conectado que ele ganha a vida. Márcio cria, administra e monitora perfis de empresas em redes sociais. Também trabalha com o licenciamento de produtos do Clube Atlético Metropolitano, cujas contas no Twitter e no Facebook mantém voluntariamente. Por isso, Márcio deixou a representação comercial um pouco de lado, agora restrita a clientes antigos que o procuram.

Com tanta coisa para fazer, levou tempo para que Márcio Volkmann me respondesse. Esperava suas informações para colocá-las junto com as do blogueiro Jaime Batista. Recebi a resposta de Márcio no dia 2 de maio. Ele se desculpou nas primeiras linhas do e-mail. “Tá corrido pra caramba ultimamente.”

Como este blog é pessoal e tenho a liberdade de colocar o que eu gostaria, decidi usar as informações para não desperdiçar o tempo que Márcio gastou para me responder.

Por trabalhar conectado diariamente, atualizar o blog fica mais fácil. Durante o tempo que passa se comunicando com clientes e cuidando de perfis corporativos nas redes sociais, Márcio também recebe e lê releases. Ele afirma que só publica informações oficiais do poder público ou de outras fontes consideradas confiáveis, como das equipes que representam Blumenau no futebol, futsal, vôlei, handebol e outras assessorias de comunicação. Márcio diz ter se inscrito para receber as informações dos órgãos públicos e com o tempo foi procurado por mais assessorias de comunicação.

O blogueiro também publica notícias sobre desaparecimentos, ofertas de emprego, doação de sangue, entre outras informações de utilidade pública, sempre verificando antes. Além disso, o Márcio escreve opiniões sobre lugares que visita e gosta e oferece espaço a artistas locais, vídeos ‘bacanas’ e piadas desde o início do Nova Blumenau. É a quantidade de informações, incluindo sugestões de leitores, que determina quantas vezes por dia o blog será atualizado.

Os únicos assuntos de fora são política – “até para manter uma neutralidade, que julgo muito importante” – e ocorrências policiais, com o objetivo de manter o pensamento positivo, necessário em novembro de 2008, quando o blog foi criado.

Embora não se considere jornalista, Márcio Volkmann atualiza o Nova Blumenau todos os dias, até mais de uma vez. Segundo o professor de Jornalismo Digital do Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), Béio Cardoso, quanto menor a demora em colocar material novo, mais pessoas podem se interessar pelo blog.

Atualmente, o Nova Blumenau recebe entre 1.500 e 2 mil acessos por dia. Essa audiência faz o blogueiro oferecer espaço para anunciar no blog e sugerir promoções a empresas, que também o procuram. Márcio investe o dinheiro extra em equipamentos para melhorar o atendimento aos clientes: conexão 3G (como alternativa, caso dê algum problema), disco rígido externo para fazer cópias de segurança, entre outros. “Claro que sobra [uma parte] para mim também!”, diz Márcio, em tom de brincadeira.


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Palavras de recuperação
Fotos em nome da solidariedade
A credibilidade das notícias na internet
Anúncios apenas cobrem despesas extras
Público completa o noticiário

Palavras de recuperação

Em novembro de 2008, Márcio Volkmann ainda se recuperava da ruptura de um dos tendões de Aquiles e de complicações que aconteceram durante o tratamento. De cama e sem poder trabalhar, Márcio começou a usar as redes sociais para saber as notícias de Blumenau e região.

“Se não podia ajudar a recolher desabrigados, a separar donativos, eu poderia tentar fazer alguma coisa, ajudar com o que melhor sei: escrever...”, pensou Márcio. Então, ele decidiu motivar a população com uma crônica, enviada para cerca de 30 amigos. Surpreendentemente, a mensagem (leia abaixo), antes restrita, tornou-se uma corrente de e-mails, sendo depois publicada em dezenas de perfis do Orkut e citada em blogs, sites, em programas de rádio e de TV.

Fênix
(Márcio Volkmann)

A natureza é impiedosa. Blumenau foi e é manchete nos noticiários não como estávamos acostumados. Aconteceu...
Soterrados foram muitos corações. Inundados muitos sonhos. Lembro de Carlos Drummond de Andrade, em seus versos:
E agora, José?
Reconstrução: máquina trabalha em obra de galeria destruída
(Reprodução/YouTube/Prefeitura Municipal de Blumenau)
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
E agora? E agora Blumenau?
E agora? Agora Blumenau voltará a ser a cidade que impressionou todo o mundo nos primórdios dos anos oitenta. Tal qual Fênix, ela ressurgiu. E agora não será diferente.
Foram-se vidas, foram-se paredes, muros, morros, mas ficou algo que não escoa nos bueiros. A essência. A essência do nosso povo.
O povo que se doa, calça suas botas, troca carro por canoa e que estende o braço a quem precise. O povo que levanta as mangas e junto com a lama leva pra fora de casa um passado que quer esquecer.
O povo que inunda de esperanças toda uma região devastada, com doações de todos gêneros, que trazem alento a quem precisa. Logo, suas chaminés estarão de volta. O progresso, tal qual em nosso hino, mora aqui. E como nossa gente, não irá abandoná-la.
Breve, nossas bandinhas estarão de volta, em coretos limpos, sem a água como vizinha.
E em breve, nossos irmãos de todo o Brasil, blumenauenses honorários de coração e que transformaram as estradas do nosso estado em um verdadeiro corredor de solidariedade, serão acolhidos aqui com a mesma alegria de sempre, em nossas casas enxaimel, em nossas ruas limpas, em nossas festas.
Pra frente Blumenau! Seu povo é sua força motora, e juntos faremos uma Blumenau ainda melhor, pra quem quiser ver. Eu quero. E você???

“Foi algo inesperado, mas, muito, muito gratificante. Afinal, através de palavras eu conseguia passar algo que as pessoas precisavam muito naquela ocasião: esperança.” Do sucesso da crônica, surgiu a ideia de começar um blog, o que Márcio acreditava não ser tão difícil.

Apesar de não saber como fazer o site, nem o que publicar nele, Márcio Volkmann tinha certeza de que não escreveria sobre política – “até para manter uma neutralidade, que julgo muito importante” – e ocorrências policiais. O blogueiro justifica a escolha afirmando que era necessário pensar positivamente naquela época. Dessa maneira, Márcio oferece, desde o começo, espaço a artistas locais, vídeos ‘bacanas’, piadas, além de publicar informações de utilidade pública, da administração pública, esportes, cultura e lazer.

Mesmo sem ser atualizado há quase um ano, o blog antigo ainda tem, em média, 30 mil acessos por mês. “Isso graças a várias matérias muito bem localizadas nas pesquisas Google, como por exemplo, uma matéria sobre o turismo em Blumenau”, explica Márcio. Ele também participou da cobertura da tragédia de novembro de 2008, enviando material para o VC Repórter (Terra) e o Minha Notícia (IG).



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domingo, 19 de junho de 2011

Centenas de skatistas comemoram o primeiro Go Skateboarding Day em Blumenau

Atualizado com números finais e vídeo em 04/07, às 21h


Aconteceu neste domingo (19) a primeira comemoração do Go Skateboarding Day em Blumenau. Cerca de mil pessoas – das quais 300 skatistas – foram até o Parque Ramiro Ruediger para andar de skate, concorrer a brindes e ver exposições de shapes (a tábua sobre a qual o skatista se equilibra).

Na verdade, o evento foi antecipado em Blumenau para não atrapalhar o trânsito, já que se comemora o Go Skateboarding Day (“Dia de Andar de Skate”, em tradução livre do inglês) no dia 21 de junho, mas neste ano a data caiu em uma terça-feira.

Skatistas de Blumenau e simpatizantes foram convidados a participar pelo Facebook. Enquanto uma página dava informações sobre as atividades no Parque Ramiro Ruediger – organizadas por representantes da União Blumenauense de Esportes Radicais (UBER), Federação Catarinense de Skate (FCSKT) e lojistas – outra foi criada para organizar um passeio até o local do evento (veja no mapa). Mais de 70 pessoas saíram do antigo Biergarten após às 15h, mesmo horário do evento no parque.

Percurso dos skatistas na comemoração em Blumenau.
Clique aqui para ampliar (Google Maps)

Três motos e um carro do Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb) fizeram a escolta dos skatistas até o Parque Ramiro Ruediger, parando o trânsito para que o grupo pudesse se espalhar por toda a pista durante o trajeto. Mesmo com o cuidado dos agentes de trânsito, alguns skatistas fizeram manobras ao longo do percurso, correndo risco de se machucar e até mesmo serem atropelados pelo carro do Seterb, que seguia atrás do grupo. O trânsito foi interrompido na rua Zenaide Santos de Souza, ao lado do Parque Ramiro Ruediger, durante o evento, que terminou oficialmente às 18h.

Go Skateboarding Day ao redor do mundo (esquerda);
no Parque Ramiro (D, em cima)
e cartaz do passeio (Divulgação/IASC e Reprodução/Facebook)
Segundo um dos organizadores, Tiago Pavan, o passeio tinha a intenção de simplesmente “reunir a galera e se divertir”. O Go Skateboarding Day (clique para entrar no site, em inglês) é comemorado anualmente desde 2003 no dia 21 de junho, em várias partes do mundo. A data foi criada pela Associação Internacional de Companhias de Skate (IASC) (site também em inglês) para que os skatistas se dedicassem ao esporte e se divertissem nesse dia.


Mais que esporte ou diversão


Aproveitando o evento no Parque Ramiro Ruediger, perguntamos aos participantes o que significa para eles andar de skate. A maioria considera mais que um esporte ou um jeito de se divertir. Há também quem tenha mudado de opinião depois que começou a andar de skate. Veja o vídeo.